quinta-feira, 25 de março de 2010

Fragmento da minha vida..

Gente, esse texto aqui é pra falar um pouco da minha experiência no quesito “roça”. Isso mesmo, na roça!!! Vivemos nela durante 1 ano e dois meses. Pouco tempo, mas o suficiente para ficar guardado na minha memória..Vamos lá.

Sem luz elétrica, sem água encanada, forno à lenha, as galinhas no terreiro, a água escorrendo na bica..essas coisas que tem e não tem na roça. Ô época difícil!!! não pra mim (porque era criança e não entendia das dificuldades da vida), mas pra minha família era. Meu paizinho acordava às 05:00 da matina pra cuidar da fazenda alheia, trabalhava duro por uma miséria, que não dava nem pra comer direito.
Quando ele recebia sua merreca de salário, ia pra cidade de bicicleta, que ficava a uns 30 quilômetros da roça. Longe pra dédeu. Saía de manhãzinha e voltava ao entardecer. Cansado feito uma mula. Na cidade, ele comprava o “grosso” gíria que minha mãe usa pra se referir à alimentação básica arroz, feijão, farinha, açúcar, café, sal...essas coisas. Carne ele não comprava, a que comprava era pra usar no mesmo dia, pra não estragar, já que não tínhamos energia elétrica, não tínhamos geladeira.
O jeito, então, era procurar alimento no mato ou na domesticação de animais. Algumas vezes tínhamos que pescar ou caçar. Eu adorava ir pra beira do rio pra pescar com meu pai, ou até mesmo caçar pássaros e matá-los na “estilingada” (hoje me arrependo de ter matado tantos bichinhos). Eu era craque na pescaria, pegava peixe que era uma beleza. Meu pai caçava outros bichos selvagens também, como é o caso do tatu, meleta, cutia. Uma vez ele achou um jabuti, o coitado também foi pra panela. Lembro que meu pai também gostava de pegar rãs pra comermos, mas eram só as que apareciam dentro da cisterna. Outras carnes que utilizamos também era as de galinha, pato, cocá (galinha da angola). Ah, e tínhamos os fedorentos dos porcos. Eca esses fediam pra burro.
Como onde a gente residia não era propriedade nossa, não tínhamos plantação. O máximo que podíamos plantar era um milharalzinho besta no quintal. Então basicamente nossa alimentação era isso. Ah, e tinha também os ovos de pato e de galinha. Verduras e frutas eram só de vez em quando. Doces então, uma vez na vida outra na morte.
Nossa casa era feita de pau, cortadas ao meio e colocadas uma do ladinho da outra. O telhado era de folha de coqueiro. O piso era de terra mesmo.A parte boa dessa história é que não precisava limpar kkkk.
A água. Água tinha, e muita. Para banhar íamos ao rio. Outras vezes na bica, ou esquentávamos água e banhávamos no banheiro improvisado que tinha. Para beber, pegávamos água da bica, fervia, cuava e depois ia pro pote. Uma delícia de água. A lavagem de roupa e de louça era no rio, outras no giral improvisado. Aquele monte de mulheres na beira do rio lavando suas vestimentas. Uma fofocalhada só.
Para eu e minhas irmãs estudarmos, nós tínhamos que ir até a cidade de buzú. Era uma longa viagem, que fazíamos todo santo dia. Algumas vezes ele quebrava no meio do caminho, então tínhamos que voltar a pé pra casa. Quando ele quebrava à noite, tínhamos que esperar do lado de fora do ônibus, até algum pai preocupado com o atraso dos filhos, irem até o destino pegar eles voltar e avisar pros outros pais do acontecido. Imaginem só o perrengue que era.. os pais cansados pelo trabalho diário indo buscar crianças no breu com material escolar na mão com quilômetros e quilômetros de distância de casa, varadas de fome, iluminadas só pela luz da lua...Êita vida...Mas pelo sim pelo não, não reprovamos série algumas ( nessa época ).

As brincadeiras rolavam num espaço a céu aberto. Brincadeiras como pula corda, amarelinha, pique pega, pique bandeirinha, bete, essas brincadeirinhas super famosas no mundo das crianças. Já o pique – esconde era no mato. Era massa. O único problema eram as pernas que coçava em virtude do esfrega-esfrega dos matos. Nos finais de semana brincávamos até o entardecer.

Quando era tempo das galinhas botarem seus ovinhos, elas não escolhiam lugar. Então minha mãe mandava nós procurarmos os ovos que ficavam espalhados pelo mato. Eu achava divertido, ainda mais quando nessa busca a gente encontrava côco. Daí levávamos pra casa, quebrávamos e comíamos. Uma delícia.

Outro tipo de côco que nós encontrávamos era os misturados a restos fecais da vaca. Isso mesmo, da bosta. Não dava nojo, porque a vaca só come mato, então não fede. Juntávamos e levava para casa ou quebrava na estrada mesmo.
É tão gostoso lembrar as pescas com meu pai e minha mãe. Lembro de um laguinho que tinha em frente casa. Não dava pra banhar nem beber, mas tinha uns peixinhos que eu adorava atormentá-los. Algumas vezes ele secava, dava uma dó. Uma vez, eu e minha irmã mais velha pegamos a caçula e tentamos jogá-la nesse lago. Quando a balançávamos ela de um lado pro outro, preparando para o arremesso, bem na hora meu pai e minha mãe chega e dão o grito. Foi por pouco. A bronca foi feia, mas enfim...
Lembro-me também de uma vez chegar em casa e não ter ninguém, a vizinha disse que eles tinha ido pescar e saí feito uma louca atrás deles no rio. Pra chegar até lá era uma “descidona” horrorosa... daí num deu outra, saí aterrissando na terra. Tenho a cicatriz até hoje na cintura. Uma cicatriz do tamanho de uma moeda de 10 centavos. Demorou a cicatrizar e virou uma casca grossona. AI dói até de lembrar.

Hoje relembrando dessa época, penso o quanto sofrimento e provações que o ser humano passa. Por mais que seja duro de resistir, continuamos a luta pela sobrevivência. Hoje, moramos na cidade (não parece, mais Jardim Ingá é uma cidade!!! Palmas pra ela..kk’s), não temos muita coisa material de se orgulhar, mas o importante é que sobrevivemos e continuamos a briga, com mais um pouco de folga, claro! mas a batalha sempre continuará. Hoje minhas irmãs estão, podemos dizer, praticamente casadas. Meus pais não ralam duro como antes. Eles são aposentados e vivem disso. Eu sou dependentes deles ainda, mas tenho o meu trabalho.


Pois é então é isso, uma pequena partícula da minha vida.Obrigado pela paciência por ter acompanhado o término da leitura, é que eu me empolguei, sabe?! E desculpem aí pelos erros ortográficos, gramaticais, e de concordância...

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2 comentários:

  1. Miga, hoje eu tô enxergando \o/
    Sabe, olhando isso tudo que você passou, eu me lembro do quanto a gente sofreu também até conseguir fazer uma casa, até poder ter o que a gente tem hoje, que não é muito, mas que é nosso.
    Eu gosto de ler histórias assim porque depois a gente fica pensando, nossa eu passei por tudo isso e fulano passou por coisas piores, mas no entanto, estamos todos aqui, firmes e fortes prontos pra próxima.
    Nessa hora eu levanto as mãos pro céu porque só quem já passou dificuldade pra saber como é.
    Milhões de beijos minhs frô, te amo, fica com Deus :)

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  2. Pois é acho que todos passam por perrengues na vida...então é nóis...
    Só precisamos de coragem...
    bjim..

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